quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Interpretações

Assim como as palavras podem gerar interpretações diversas, o olhar também fala por si e pode também haver interpretações BEM equivocadas.
Como cobrador há vários anos e, claro, conhecemos todos os tipos de situações dentro do coletivo, como por exemplo, uma criança que está em pé em cima do banco e que inevitavelmente vai cair na próxima curva, um idoso desatento a necessidade de uma parada/freada súbita, um passageiro que acha que só o fato de chegar a porta, o motorista tem que adivinhar que ele vai descer e até mesmo um assaltante e/ou assaltados em potencial. Bem, passo o tempo todo olhando, observando, cuidando, olhando de novo, observando de novo um por um, cada passageiro e tenho convicção que com isso já evitei/inibi vários roubos.
Porém várias saias-justas me aconteceram: Um marido alterado me perguntando que tanto que eu olhava para sua esposa e pergunta se eu estava querendo apanhar, outro namorado com o mesmo pensamento, que se observasse com atenção veria que é dispensado o mesmo tempo de "análise" a todos os demais passageiros, uma moça, que, degenerada, me enche de "elogios" e sai com aquele velho impropério: "_por acaso eu to cagada??"... Engraçado mesmo foi a vez que um rapaz sentado próximo a roleta me encara com o senho fechado e carrancudo me mostrando a aliança e diz: "_sou macho ó!!"
É amigo leitor... É preciso saber usar as palavras certas e concomitantemente o olhar "certo" também e ser muito bom no circunlóquio.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Erro de leitura

Os olhos são com certeza as janelas da alma e por sua vez falam mais que palavras.
***
No ponto em frente a escola sobem três jovens, um casal e uma amiga. Os três conversam frivolidades, as moças sentam-se no assento ao lado da roleta, o rapaz fica em pé de mão dada com sua namorada que esta sentada no lado do corredor, o assunto continua. Concomitantemente o rapaz e a amiga conversam apenas com os olhos, perceptivelmente, enfastiados com aquela conversa.
O assunto continua. A conversa com os olhos idem.
Levantam-se para passar a roleta, a namorada é a primeira a passar e segue direto a um assento no meio do ônibus, os outros dois ficam à roleta e aquela conversa com os olhos verbaliza-se em uma frase:"_Ela desce primeiro!" diz o rapaz
A amiga só concorda com a cabeça.
Não entendi nada.
A outra moça percebendo a "parada" pergunta o que houve e o rapaz responde:
"_Deu erro de leitura no cartão da Carla."
...
Não deu erro! Eu mesmo liberei a catraca!
Não entendi nada.


Desta vez o rapaz senta com sua namorada e Carla senta-se no assento do outro lado do corredor.
Logo adiante a moça beija seu namorado calorosamente, despede-se da amiga e desce.
Antes de chegarmos no próximo ponto Carla passa para o lado do rapaz e o beija igualmente c a l o r o s a m e n t e, sussurram algo, sorriem, mais beijos ignescentes sem o menor constrangimento.
Entendi tudo.
Carla desce.
O rapaz atende o telefone. Quem será?
Ele desceu...
Nelson Rodrigues adoraria!!!

Desorientado

Não consigo entender como um grande número de pessoas consegue viver completamente alienadas, sem noção...Há diálogos que parecem piadas e beiram e sandice.
Esta semana um rapaz meio alterado chega até a mim e diz - afirmando - (não é uma pergunta)
"_Já passou!"
Passou o que senhor?
"_Já passou minha parada... eu acho!" Olhando pra fora em todas as direções com os olhos assustadoramente esbugalhados.
_E onde o senhor tem que descer?
"_Numa parada..."
_Sim, mas onde?
"_Numa parada que tem uma 'estauta' atrás"
_Onde o senhor quer ir? Tem uma referência?
"_É uma rua que sobe e eu dobro e vou até o mercado do seu Hélio, tenho que fazer um serviço lá."
_O senhor sabe o nome da rua?
Ele continua a procurar e os olhos dão a impressão que irão saltar a qualquer momento.
"_Quando eu desço a escadinha da praça eu passo no 'méquidonis' e na rua de trás é o mercado do seu Hélio, aquele com a parede verde e as 'letra' vermelha"
Resumindo, ele foi até o final da linha sem que chegassemos num consenso. Voltamos.
Pois bem. Dedução:
Como no meu trajeto passo por duas lojas do "méquidonis" e a que tem a praça (o Parcão) com escadinhas e uma rua que sobe(a 24 de outubro) e nesta primeira parada tem uma "estauta", foi ali que o deixei.
Tomara que o pobre coitado tenha encontrado seu destino!
É amigo!! Não é fácil...

Filhas de Safo

Para evitar qualquer tipo de atrito no ambiente de trabalho devemos ser imparciais em todo tipo de questões "discutíveis" e não formar opinião para que não haja constrangimento a nenhum passageiro. Mas muitas vezes não se pode ficar indiferente e o preconceito deve ser rebatido, claro que sempre com diálogo.


Duas moças sentam-se juntas, abraçadas, trocam carícias, sem o menor sinal de salacidade, dentro do limite do que qualquer casal faria em público.
Outras duas senhoras sentadas logo atrás destas começam com olhares reprovadores e sinais para outros passageiros, sem falar nada, porém ficam crepitando sons reptos de aversão.
Percebendo isso, uma das moças olha para trás também com olhar reprovador mas não diz nada.
Acho digno a soberania do silêncio.
Após as meninas descerem uma das senhoras começa proferir:
"_Que pouca vergonha!Não se dão respeito!E tu cobrador?Porque não mandou que parassem?"
Eu apenas disse a ela que não vi nada demais, que não cabia a mim rechaçar a atitude delas, que achava o preconceito errado e que ninguém esta livre de não agradar a tudo nem a todos.(Inclusive ela, com aquelas atitudes de alcoviteira e preconceituosa)
***
Um adendo que não podia deixar passar.
Uma observação.
Tá bom!
Uma fofoca! ... mas sem preconceito...
Dias depois as mesmas moças subiram no ônibus, com um porém impossível de não me chamar a atenção: uma delas estava com o namoradO e elas sentaram-se longe uma da outra.(???)
Como diria um amigo:
"Não há o que não haja!"